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Família Pereira

quinta-feira 25 de outubro de 2012, por Natália Latansio

O fandango deve muito a este pessoal, sem é claro desconsiderar todas as iniciativas e os fandangueiros locais, a Família Pereira é o exemplo mais forte da resistência. Talvez seja a única que ainda guarda as características mais tradicionais do fandango por ter permanecido isolada no interior de Guaraqueçaba durante mais de 50 anos. Rio dos Patos é uma comunidade onde só é possível chegar após algumas horas de navegação e uma boa caminhada por trilhas. Aos poucos o núcleo familiar foi se dispersando para outras comunidades da redondeza, em virtude das mudanças de costumes, novas legislações ambientais e problemas relacionados às características de economia de subsistência. Em 2000 se organizaram como um grupo de Fandango, em virtude do projeto “Fandango Subindo a Serra”, de Maria de Lurdes Brito (Lú Brito), para se apresentar no palco do SESC da Esquina, em Curitiba. De lá pra cá, já se apresentaram em diversas cidades do Paraná, no Rio de Janeiro, e tiveram instrumentos expostos até em Paris.

O grupo é “oficialmente” formado pela ala dos músicos, a ala dos que também batem o pé e diversas mulheres que dançam as modas batidas e valsadas em apresentações.

Dentre as figuraças, Leonildo, de sorriso fácil, é um dos líderes. Exímio tocador de viola, cantador e rabequeiro, e toda vez que a gente o encontra, já de longe você escuta “Aê Cunhado!”. Pensar que poderíamos falar em fandango hoje em dia e esquecer dele é quase um pecado. O difícil é encontra-lo, pois mora com a família em um local chamado Abacateiro, de frente para a Baía de Pinheiros e o único acesso é por mar. Constrói violas e rabecas e é grande incentivador e agitador do fandango por onde passa.

Nilo Pereira, atual morador de Guaraqueçaba, bairro do Cerquinho, além de cantar, toca viola, machete, cavaco e constrói instrumentos. É o “produtor” e grande responsável pela reorganização do grupo em 2000.

“Ah, eu juntei, né? Peguei um barco, porque eu sou o responsável pelo grupo, então, sou obrigado a fazer isso. Então, eu sou obrigado a juntar o grupo tudo, trazer aqui para a minha casa, fazer eles dormir aqui para viajar no outro dia. E levo lá e trago de volta para minha casa e daqui despacho eles de volta. Pego outro barco e levo cada um em sua casa.” (Fonte: Museu Vivo do Fandango. Página 85)

Sem falar nos outros, tão importantes quanto, Anísio, que constrói violas e rabecas como poucos, Heraldo, um dos filhos de Anísio, também construtor e ótimo rabequeiro e violeiro, tem ainda Zé Pereira, o “faz tudo” que constrói e toca de tudo, Pedro Pereira, auto-intitulado “o melhor rabequeiro do Brasil” e também Vicente, o único que não é Pereira, e sim França, agregado de outra família de fandangueiros. Os Pereira são uma prole das mais frutíferas do fandango, e são sem dúvida uma das marcas do atual momento da cultura fandangueira.

A “Saga dos Pereira” tem gerado muitos resultados visíveis. Em 2001 gravaram o seu primeiro CD-Duplo, o “Viola Fandangueira”, juntamente com o Viola Quebrada, de Curitiba, em 2003 lançaram o CD “Fandango de Mutirão”, com o Grupo Mestre Romão (de Paranaguá) composto com o livro de mesmo nome, de Maria de Lurdes Brito. Também estiveram presentes no CD e Livro do Museu Vivo do Fandango. A Família Pereira encabeça a Associação dos Fandangueiros de Guaraqueçaba, fundada em 2001, que agregou outros fandangueiros e grupos desde então e em 2005 aprovou com outros apoios um projeto de Ponto de Cultura, a “Casa do Fandango de Guaraqueçaba”, que ainda está em processo de conveniamento.

Aquele pessoal que em meados de 90 foi recebido com resistência no palco da festa, hoje em dia é aplaudido de pé e com pedidos de “mais um, mais um...”, como aconteceu em 2007. Isto é um importante reflexo do trabalho que tem sido feito para o revigoramento do fandango como um coletivo de iniciativas, e que sem dúvida tem “Os Pereira” como um dos protagonistas.

Fonte: http://www.overmundo.com.br/overblo..., acesso feito em 25 de março de 2013